segunda-feira, 25 de agosto de 2025

"São Carlo Acutis", Pensamentos, Novena e Orações

 


Para bem rezar a Novena a Carlo Acutis, é conveniente conhecer um pouco mais de sua vida.

    Carlo Acutis nasceu em 3 de maio de 1991, em Londres, mas cresceu em Milão, Itália. Desde cedo, demonstrou uma fé profunda, influenciado por sua babá polonesa, Beata, que o introduziu às práticas católicas. Aos 7 anos, recebeu a Primeira Comunhão e, a partir de então, frequentava a missa diariamente, participava da Adoração Eucarística e rezava o Rosário. Apesar de pertencer a uma família abastada, Carlo destacava-se pelo desapego material e pelo serviço aos pobres, distribuindo alimentos e auxiliando os necessitados em Milão.

Apaixonado pela Eucaristia, referia-se a ela como “a minha estrada para o céu” e mantinha uma vida de oração constante. Além disso, tinha uma forte devoção a Nossa Senhora, sendo consagrado a ela e incentivando a recitação do Rosário entre amigos e familiares. Seu testemunho de fé influenciou a conversão de pessoas próximas, evidenciando sua maturidade espiritual desde tenra idade.

Com habilidade em tecnologia, Carlo viu na internet uma ferramenta eficaz para a evangelização. Aos 11 anos, iniciou a criação de um site que catalogava milagres eucarísticos ao redor do mundo, trabalho que exigiu extensa pesquisa e dedicação. Seu objetivo era compartilhar com outros a importância da Eucaristia e fortalecer a fé por meio desses relatos. Carlo faleceu em 12 de outubro de 2006, vítima de leucemia, mas seu legado continua inspirando muitos a buscar uma vida de santidade no cotidiano

Pensamentos de Carlos Acutis

"Estar sempre perto de Jesus, esse é o meu projeto de vida”.

"A Santificação não é um processo de adição, mas de subtração. Menos que eu deixe espaço para Deus."

"Estar sempre perto de Jesus, esse é o meu Projeto de Vida."

"A Tristeza é o olhar voltado para si; a Felicidade é o olhar voltado para Jesus." 

"Todos os dias vivo a Eucaristia como um diálogo constante com Jesus, como uma autêntica esperança. A Eucaristia é a minha autoestrada para o Céu." 

"Peça ao seu Anjo da Guarda para ajudá-lo continuamente, de modo que ele se torne Seu melhor amigo."

"Estou feliz em morrer, por que vivi minha vida sem perder nem mesmo um minuto dela com coisas que Deus não gosta." 

"A única coisa que nós temos que pedir a Deus na Oração é a vontade de ser santos." 

"A Eucaristia é a minha estrada para o Céu".

"Porque os homens se preocupam tanto com a beleza do próprio corpo e não se preocupam com a beleza da própria alma?"

“Nosso objetivo deve ser o infinito, não o finito. O infinito é nossa pátria. Sempre fomos esperados no Céu. Na vida eterna algo extraordinário nos espera."


Como rezar a Novena a Carlo Acutis?

A novena a Carlo Acutis consiste em 4 momentos:
Oração inicial: é a mesma, deve ser repetida todos os dias, incluindo nela o pedido da graça que se deseja alcançar com a novena.
Meditação do dia: em cada um dos dias da novena, medita-se um pequeno ponto de sua vida, um aspecto de sua espiritualidade.
5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias: também deve-se rezá-los todos os dias, ao término da meditação do dia. São 15 orações feitas em honra aos 15 anos de vida de Carlo Acutis nesta Terra.

Oração final: reforça-se o pedido da graça pelos méritos de Carlo Acutis.



Novena a Carlo Acutis

Primeiro dia

Oração inicial:
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do primeiro dia: “Não eu, mas Deus”
São Carlo Acutis, que fizeste de tua vida uma contínua renúncia e aniquilamento, dá-me a graça de buscar as coisas do Céu e desprezar as que passam. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Segundo dia


Oração inicial: Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do segundo dia: “Estar sempre junto com Jesus: este é o meu plano de vida”
São Carlo Acutis, que viveste imerso no Coração de Jesus, dá-me a graça de realizar, em tudo, este teu plano de amor. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Terceiro dia


Oração inicial:
 Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do terceiro dia: “Estar sempre junto com Jesus: este é o meu plano de vida”
São Carlo Acutis, que viveste imerso no Coração de Jesus, dá-me a graça de realizar, em tudo, este teu plano de amor. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Quarto dia


Oração inicial: Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do quarto dia: “Peça ao seu Anjo da Guarda para ajudá-lo continuamente, de modo que ele se torne seu melhor amigo”
São Carlo Acutis, que buscaste, já neste mundo, a companhia dos santos anjos, dá-me a graça de viver na retidão que o meu santo anjo deseja. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Quinto dia


Oração inicial:
 Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do quinto dia: “Nossa alma é como um balão… Se por acaso existe um pecado mortal, a alma cai sobre a Terra e a confissão será como fogo… É preciso confessar-se frequentemente”
São Carlo Acutis, que tão bem viveste o sacramento da reconciliação, dá-me a graça de buscá-lo sempre com uma contrição profunda. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Sexto dia



Oração inicial: Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do sexto dia: “A única coisa que nós temos que pedir a Deus na oração é a vontade de ser santos”
São Carlo Acutis, que soubeste sempre pedir a Deus o essencial, dá-me a graça de um profundo desejo do Céu. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Sétimo dia


Oração inicial:
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do sétimo dia: “A Virgem Maria é a única mulher da minha vida”
São Carlo Acutis, que amaste a Virgem Maria mais que tudo, dá-me a graça de corresponder ao amor desta tão terna e boa mãe. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Oitavo dia


Oração inicial:
 Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do oitavo dia: “A Eucaristia é a minha estrada para o Céu”
São Carlo Acutis, que buscavas sempre teu Jesus escondido no sacrário, dá-me a graça de um profundo ardor eucarístico. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.

Nono dia


Oração inicial: Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço por todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de São Carlo Acutis durante os 15 anos que passou nesta Terra e, pelos méritos deste tão querido Anjo da Juventude, vos suplico que me concedais a graça que ardentemente vos peço: (faz-se o pedido da graça que se deseja).

Meditação do nono dia: “Eu estou feliz de morrer, porque vivi a minha vida sem perder nenhum minuto em coisas que não agradam a Deus”
São Carlo Acutis, dá-me a graça das graças, que é a perseverança final e uma morte santa. Amém.

5 Pai-Nossos, 5 Ave-Marias e 5 Glórias ao Pai, em honra dos 15 anos de vida do servo de Deus nesta Terra.

Oração final: Deus Pai de Misericórdia, que elevastes à glória dos altares este vosso servo Carlo Acutis, a fim de que, por ele, vós fôsseis mais glorificado, concedei-nos, pelos méritos dele — que em tudo viveu a vossa vontade —, a graça que ardentemente desejo. Amém.







Crédito ao autor: Imprimatur + Dom Janusz Marian Danecki, OFMConv. Bispo auxiliar da Arquidiocese Campo Grande (Brasil) – Protocolo 52. Campo Grande, 30 de setembro de 2016

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Exame de Consciência diário



São Josemaria recomendava fazer um breve exame de consciência no final de cada dia, para crescer sempre no amor a Deus e evitar tudo o que possa constituir um obstáculo a esse amor.

No âmbito da conversão interior a Deus, o exame de consciência costuma ser considerado sob dois aspectos, muito relacionados entre si: como parte da preparação – identificação diligente dos pecados cometidos – para receber com fruto o sacramento da Penitência (cfr. CCE, n. 1454), e como prática ascética necessária para o progresso na vida espiritual. Vamos cingir-nos ao segundo aspecto, cuja finalidade está bem focada nestas palavras de São Josemaria, que põem em conexão a chamada e o seguimento de Cristo com a necessidade de examinar o coração no amor de Deus: “Quando o Senhor os chamou, os primeiros Apóstolos estavam junto à barca velha e junto às redes furadas, remendando-as. O Senhor disse-lhes que O seguissem; e eles, "statim" - imediatamente -, "relictis omnibus" - abandonando todas as coisas, tudo! -, O seguiram... E acontece algumas vezes que nós - que desejamos imitá-los - não acabamos de abandonar tudo, e fica-nos um apego no coração, um erro em nossa vida, que não queremos cortar para oferecê-lo ao Senhor. - Examinarás o teu coração bem a fundo? - Não há de ficar nada aí que não seja dEle; caso contrário, não O amamos bem, nem tu nem eu” (Forja, 356).

Nesta última frase está refletido o ponto para o qual se dirigem todas as considerações que São Josemaria faz sobre o exame de consciência: a necessidade que o cristão tem de crescer sempre no amor a Deus e evitar tudo o que possa constituir um obstáculo a esse amor.

1. O exame de consciência no contexto do diálogo entre o homem e Deus

O cristão, mediante o exame de consciência, situa-se diante de si mesmo na presença de Deus, para descobrir o que há nele e em suas obras que não corresponda à sua vocação de filho de Deus em Cristo, chamado à santidade. O conhecimento que alcança dispõe-no à contrição – à dor por suas faltas e ao propósito de corrigir-se – a pedir perdão a Deus, a valorizar os bens que dele recebeu, a agradecer e a procurar os meios adequados para melhorar nas circunstâncias em que se encontra: “Observa a tua conduta com vagar. Verás que estás cheio de erros, que te prejudicam a ti e talvez também aos que te rodeiam. (...) Precisas de um bom exame de consciência diário, que te leve a propósitos concretos de melhora, por sentires verdadeira dor das tuas faltas, das tuas omissões e pecados” (Forja, 481).

O exame é uma necessidade para o cristão que quer corresponder à chamada divina: “Se lutas de verdade, precisas fazer exame de consciência. – Cuida do exame diário: Vê se sentes dor de Amor, porque não tratas Nosso Senhor como deverias” (Sulco, 142). São Josemaria destaca a finalidade fundamental do exame: a dor pela falta de correspondência ao Amor de Deus, e adverte que o verdadeiro exame de consciência deve terminar na contrição. Por isso aconselha: “Acaba sempre o teu exame com um ato de Amor – dor de Amor – por ti, por todos os pecados dos homens... e considera o cuidado paternal de Deus, que afastou de ti os obstáculos para que não tropeçasses” (Caminho 246). O exame não acaba em si mesmo, mas na dor de amor e, precisamente por que é de amor, no pesar pelos pecados próprios e alheios. É inspirado pelo amor a Deus e leva, perante o Amor de Deus, à dor pelas faltas e ao agradecimento. E daí, à retificação da conduta: “’Quanto não devo a Deus, como cristão! A minha falta de correspondência, perante essa dívida, tem-me feito chorar de dor: de dor de Amor. ‘Mea culpa!’” – Bom é que vás reconhecendo as tuas dívidas. Mas não te esqueças de como se pagam: com lágrimas... e com obras” (Caminho 242).

Esse diálogo, fruto da amorosa relação pessoal entre o cristão e Deus, é o lugar próprio do exame de consciência (CECH*, p. 431). Para São Josemaria, o exame não é simples introspecção, uma espécie de monólogo interior que versa sobre si mesmo e suas obras, para verificar, até o exagero, inclusive, se se vai bem ou mal, pois “o cristão não é um maníaco colecionador de uma folha de serviços imaculada” (É Cristo que Passa, 75). O exame é uma forma de oração, na qual o homem considera sua própria vida na presença de Deus, em diálogo com o Senhor e com a ajuda de sua graça: “Jesus, se há em mim alguma coisa que te desagrade, dize-o, para que a arranquemos” (Forja, 108). Neste contexto de trato amoroso com Deus fica fora o perigo da rigidez ou de uma estima excessiva do esforço humano no progresso espiritual: a alma confia-se a Deus em seu caminhar pois dele recebe a luz para saber onde lutar e a força para fazê-lo.

O exame de consciência é tarefa que requer empenho sério, pois o bem que está em jogo é o mais alto. Para ilustrar esta realidade, São Josemaria recorre à comparação com a gestão dos negócios humanos: “Exame. – Tarefa diária. – Contabilidade que nunca descura quem tem um negócio. E há negócio que renda mais que o negócio da vida eterna?” (Caminho 235). A comparação, já usada há tempos na Igreja (cfr, CECH, pp. 423-424), é simples e ilustrativa: a gestão de um negócio requer a contabilidade das despesas e receitas, detectar o que e como se pode melhorar, remediar as falhas, etc. Alcançar a vida eterna é a finalidade do grande negócio do cristão, que se concretiza na luta diária por corresponder à graça divina. Passo prévio e ponto de partida para essa luta é o exame de consciência. Descuidá-lo constitui sério perigo: “Há um inimigo da vida interior, pequeno, bobo; mas muito eficaz, infelizmente: o pouco empenho no exame de consciência” (Forja, 109). Nada importa tanto para o cristão como aproximar-se cada vez mais de Deus, pelo que procurará sempre “fazer com consciência o exame de consciência” (Del Portillo, Carta 8/12/1976, n. 8: Fernández Carvajal, 2004, III, p. 391).

O exame é tarefa diária “Não me deixes todos os dias de noite, o exame: é questão de três minutos” (CECH, p 422), recomendava São Josemaria a um de seus filhos, sugerindo o momento e o tempo para fazê-lo: no fim do dia e brevemente. Para um exame mais detalhado, “mais profundo e mais extenso” (Caminho 245), há os dias de recolhimento mensal e de retiro anual: “Dias de retiro. Recolhimento para conhecer a Deus, para te conheceres e assim progredir. Um tempo necessário para descobrir em que coisas e de que modo é preciso reforma-se: que tenho que fazer? O que devo evitar?” (Sulco 177). Na quietude e recolhimento dos dias de retiro, a sós com Deus, nessa “bendita solidão que tanta falta te faz para teres em andamento a vida interior” (Caminho 304), o cristão, longe das fadigas de cada dia, tem a oportunidade de considerar com mais vagar e amplitude sua vida espiritual, e procurar a conversão: “Há alguma coisa na tua vida que não corresponda à tua condição de cristão e que te leve a não quereres purificar-te? Examina-te e muda. (Forja, 480).


São Josemaria insiste também na importância de estar vigilante a todo momento: “Acostumai-vos a ver Deus por trás de todas as coisas, a saber que Ele nos espera sempre, que nos contempla e pede precisamente que o sigamos com lealdade, sem abandonar o lugar que nos cabe neste mundo. Devemos caminhar com vigilância afetuosa, com uma preocupação sincera de lutar, para não perdermos a sua divina companhia” (Amigos de Deus, 218). Com essa atitude de ‘vigilância’, ele não se refere a um hábito de autocontrole permanente e sim a uma atitude do espírito, a uma disposição de ânimo própria da alma enamorada, pois “quando se ama deveras..., sempre se encontram detalhes para amar ainda mais” (Forja, 420). Trata-se de uma vigilância serena que procede do amor a Deus, que procura amá-lo mais e melhor a todo momento, e que se concretiza na amorosa resolução de “começar e recomeçar [a luta] em cada momento, se for preciso” (Amigos de Deus, 219; cfr. Amigos de Deus, 214). O caminho para formar na alma esse espírito de exame é fazer bem todos os dias o exame de consciência e crescer no amor de Deus.

São Josemaria aceita – como depois comentaremos com mais detalhes – a distinção clássica entre exame geral, que implica um olhar dirigido ao conjunto do dia, e exame particular, que dirige a atenção para um ponto concreto em que se deseja melhorar. Faz ocasionalmente diversas sugestões, e entre os vários métodos que foram propostos para fazer o exame de consciência, ele não outorga primazia a nenhum deles em concreto, nem direta nem indiretamente e tampouco indica um próprio. “Não se podem dar regras fixas. O exame que vai bem para uma pessoa não vai bem para outra; e mesmo para uma pessoa vai bem apenas durante uma temporada. Isso depende das circunstâncias de cada um. Cada um deve combinar com o seu diretor espiritual” (Del Portillo, Carta 8/12/1976, n. 14, em Cartas de família, II; AGP, Biblioteca, P17).

Seja qual for o modo de fazer o exame de consciência, São Josemaria previne sobre um perigo sempre presente neste exercício espiritual: “À hora do exame, vai prevenido contra o demônio mudo” (Caminho 236). Trata-se do demônio – “do qual nos fala o Evangelho” (Forja, 127; cfr. Mt 9, 32-33, Mc 9, 24) – que impede o cristão de ser sincero tanto consigo mesmo no exame de consciência como na direção espiritual e no sacramento da Penitência (cfr. Amigos de Deus, 188-189; CECH, pp 416-417). Se faltar a sinceridade, não se reconhecem as faltas e pecados e a alma se fecha para a dor, para a petição de perdão e para a graça divina. Daí a recomendação taxativa: “Tem sinceridade ‘selvagem’ no exame de consciência; quer dizer, coragem: a mesma com que olhas ao espelho, para saber onde te feriste ou te manchaste, ou onde estão os teus defeitos, que tens de eliminar” (Sulco 148).

Trata-se da valentia que procede de uma esperança firme no amor de Deus: “As nossas misérias não nos deverão levar nunca a esquivar-nos do Amor de Deus, mas a acolher-nos a esse Amor (...). Não devemos afastar-nos de Deus por termos descoberto as nossas fragilidades; temos de atacar as misérias, precisamente porque Deus confia em nós”. (AD, 187)

2. Conhecimento de Deus e conhecimento próprio

O exame de consciência foi tradicionalmente considerado como meio de conhecimento próprio, e este, por sua vez, como caminho necessário para a união com Deus (Delchard, 1961, cols. 1831 – 1838). São Josemaria também o indica, quando afirma que “o conhecimento próprio leva-nos como que pela mão à humildade” (Caminho 609). E, com ela, à confiança e ao amor de Deus em reconhecimento de sua Bondade infinita: “Não esqueças que és...a lata do lixo. – Por isso, se porventura o Jardineiro divino lança mão de ti, e te esfrega e te limpa...e te enche de magníficas flores... nem o aroma e nem a cor que embelezam a tua fealdade devem envaidecer-te” (Caminho 592).

É, no entanto, notável que São Josemaria anteponha o conhecimento de Deus ao conhecimento de si próprio: “Invoca o Espírito Santo no exame de consciência, para conheceres mais a Deus, para te conheceres a ti mesmo, e assim poderes converter-te em cada dia” (Forja, 326; cfr. É Cristo que Passa 58, 164; Sulco 177; Forja, 184).

Não se trata de uma novidade, mas de um modo de propor a finalidade do exame de consciência que leva a destacar a primazia do Amor de Deus por nós (cfr. 1 Jo 4, 19). Para viver vida sobrenatural, é necessário conhecer a própria realidade do ser cristão: tanto a própria humanidade, com a sua limitação e a sua miséria, como – e de modo mais fundamental – a participação na vida divina que recebemos com a graça: “Saber que saímos das mãos de Deus, que somos objeto da predileção da Trindade Beatíssima, que somos filhos de tão grande Pai. Eu peço ao meu Senhor que nos decidamos a tomar consciência disso, a saboreá-lo dia a dia” (Amigos de Deus, 26).

O cristão deve olhar para si mesmo no exame de consciência à luz destas verdades; se não, alcançará uma visão parcial e com frequência pouco positiva de si mesmo e da sua atuação, em contraste com a realidade querida por Deus: “Lança para longe de ti essa desesperança que te produz o conhecimento de tua miséria. – É verdade: por teu prestígio econômico, és um zero..., por teu prestígio social outro zero..., e outro por tuas virtudes, e outro por teu talento... Mas, à esquerda dessas negações está Cristo... E que cifra incomensurável não resulta!” (Caminho 473). Daí o conselho de São Josemaria “Medite cada um o que Deus fez por ele e no modo como correspondeu” (Amigos de Deus, 312). Tendo presentes as graças recebidas por Deus – a vida, a filiação divina, a redenção – nesse colóquio de amor com Deus que deve ser o exame, a alma fica sem nada escondido, com dor de amor pelas culpas, agradecida pelos dons recebidos, esperançada pela ajuda divina, e se enche de desejos de corresponder melhor, daí para a frente (cfr. Amigos de Deus, 215).

3. Exame geral e exame particular

São Josemaria conhece e torna própria – como já dissemos – a distinção entre exame geral e exame particular, distinção clássica e bem conhecida na ascética católica (cfr. Liuima – Derville, 1961, cols. 1838-1849). Com uma comparação que remete à consideração da vida cristã como luta – “guerra de paz”, “contenda de amor”, “combate espiritual”, “torneio de amor” (cfr. É Cristo que Passa 73-77) – apresenta expressivamente a natureza e a finalidade de ambos os modos do exame de consciência: “O exame geral assemelha-se à defesa. – O particular ao ataque. – O primeiro é a armadura. O segundo, espada toledana” (Caminho, 238).

O exame geral, comparado à armadura que protege e defende quem a usa, tem como objeto o combate diário em seu conjunto. Seu exercício oferece ao cristão a possibilidade de lutar com continuidade, sem baixar a guarda nem abandonar a batalha, de “começar e recomeçar” (Forja, 384; cfr. Caminho 292), de modo que a vida espiritual seja ativa e forte e, por isso, fique protegida das ciladas do inimigo: “Esse modo sobrenatural de proceder é uma verdadeira tática militar. – Sustentas a guerra – as lutas diárias da tua vida interior – em posições que colocas longe dos redutos da tua fortaleza. E o inimigo acode aí: à tua pequena mortificação, à tua oração habitual, ao teu trabalho metódico, ao teu plano de vida; e é difícil que chegue a aproximar-se dos torreões, fracos para o assalto, do teu castelo. E, se chega, chega sem eficácia” (Caminho, 307).

O exame particular se centraliza em um ponto concreto em que se quer melhorar: “Com o exame particular tens de procurar diretamente adquirir uma virtude determinada ou arrancar o defeito que te domina” (Caminho 241). É a “arma de combate” (Caminho 240), que mantém vivo o espírito de luta ao longo da jornada, concentrando as forças em uma frente concreta. Não se trata, porém, de qualquer frente de batalha, mas sim que o objeto do exame particular seja bem definido para a situação da alma hoje e agora. O cristão deve pedir ajuda a Deus e na direção espiritual para determinar o que é mais conveniente para a sua alma: “Pede luz. Insiste. – Até dares com a raiz, para lhe aplicares essa arma de combate que é o exame particular” (Caminho 240). E depois, uma vez fixado o ponto, determinar também os meios para conseguir esse objetivo: assim poderá “ir diretamente” adquirir a virtude ou arrancar o defeito.

São Josemaria acentua o aspecto positivo da luta ascética, apresentando como objetivo ou finalidade, em primeiro lugar, “adquirir uma virtude determinada” (Caminho 241). Mesmo quando às vezes se aspire a “arrancar um defeito”, será, normalmente, mais atraente e eficaz dirigir a atenção não a esse defeito e sim à virtude contrária a ele e esforçar-se por adquiri-la. “O movimento da alma para o bem – escrevia São Tomás de Aquino – é mais forte que o destinado a afastar-se do mal” (S.Th., 1-2, q. 29, a. 3) e São Josemaria em seu ensinamento sobre o exame está de acordo com essa observação antropológica.

“Exame de Consciência”, do Diccionario de San Josemaria Escrivá de Balaguer




quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Oremos pelos Cristãos Perseguidos

  

A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) promove no dia de hoje, 6 de agosto, o Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos.

Lembremos hoje dos episódios recentes e dramáticos vivenciados por cristãos, como o massacre de mais de 200 cristãos em uma única noite na Nigéria e o assassinato brutal de um padre dentro da igreja em Mianmar. Milhões de fiéis enfrentam discriminação, expulsão, prisão e são impedidos até mesmo de exercer seu direito à oração por causa da fé que professam.

Papa Leão XIV, na audiência geral do dia 30/07, lamentou os ataques aos cristãos na Nigéria e motivou a oração por aqueles que tanto sofrem em nome de Cristo.

“Renovo meu profundo pesar pelo brutal ataque terrorista ocorrido na noite de 26 para 27 de julho em Komanda, no leste da República Democrática do Congo, onde mais de quarenta cristãos foram mortos na igreja durante uma vigília de oração e em suas casas. Ao confiar as vítimas à amorosa misericórdia de Deus, rezo pelos feridos e pelos cristãos em todo o mundo que continuam a sofrer violência e perseguição, exortando aqueles com responsabilidades locais e internacionais a trabalharem juntos para evitar tragédias semelhantes.“

Por isso, como Igreja, somos convidadas a nos unirmos em oração pelos nossos irmãos que sofrem por acreditarem e testemunharem sua fé em Cristo.

ORAÇÃO PELOS CRISTÃOS PERSEGUIDOS

Senhor Jesus Cristo, Vós nos ensinastes a rezar ao Pai em vosso nome e nos assegurastes que tudo o que pedíssemos nós receberíamos. Por isso, nos dirigimos a Vós com total confiança, vos pedimos a graça e a força de perseverar nesta tempestade, para alcançar a paz e a segurança, antes que seja tarde demais. Esta é a nossa oração e, embora pareça impossível para nós, confiamos a Vós a nossa sobrevivência e nosso futuro.

Ajudai-nos, Pai, em nome de vosso Filho crucificado e ressuscitado, Jesus, para continuarmos a trabalhar juntos; para sermos livres, responsáveis e amorosos; para encontrarmos a vossa vontade e fazê-la com alegria, zelo e coragem. Em Caná, a Mãe de Jesus foi a primeira a notar que não havia vinho. Pela intercessão de Maria, vos pedimos, Pai, para mudar a nossa situação – como vosso Filho transformou a água em vinho – da morte para a vida.
Amém

† Cardeal Louis Raphael Sako