quinta-feira, 29 de maio de 2025

Novena de Pentecostes




NOVENA DE PENTECOSTES

Solenidade: 50 dias após o domingo de Páscoa, décimo día depois da Ascensão de Jesus - entre II de maio e 14 de junho

O dom do Espírito Santo fora anunciado pelos profetas para os tempos messiânicos. A sua descida sobre os Apóstolos é o pórtico dessa era nova. Funda-se então a Igreja e é-lhe conferido o espírito de Cristo, "para renovar a face da Terra". A narrativa dos Atos dos Apóstolos recorda os acontecimentos do dia de Pentecostes: a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e os fenômenos que a acom-panham, particularmente o milagre das línguas, símbolo da missão universal dos Apóstolos. Todas as nações são chamadas a ouvir a proclamação da Boa-Nova.

A essa presença do Espírito Santo que inspira e dirige a Igreja na sua missão de pregar o Evangelho até aos confins do mundo, acresce uma presença mais íntima e mais pessoal, que faz dos Apóstolos homens novos, transformando-lhes a própria natureza pela ação penetrante do Espírito Santo em seus corações, sinal do que acontece com todos os fiéis incorporados ao Corpo Místico de Cristo.

Vamos rezar a nossa Novena:


Pelo sinal da Santa Cruz, Livrai-nos Deus Nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

Oração inicial para todos os dias

Vinde, Espírito Criador, visitai as almas dos vossos; enchei de graça celestial os corações que criastes!

Sois o Divino Consolador, o dom do Deus Altíssimo, fonte viva, o fogo, a caridade, a unção dos espirituais.

Com os vossos sete dons, sois o dedo da direita de Deus, Solene promessa do Pai Inspirando nossas palavras.

Acendei a luz nos sentidos; insuflai o amor nos corações;
amparai na constante virtude a nossa carne enfraquecida.

Afastai para longe o inimigo; Trazei-nos prontamente a paz; Assim guiados por Vós Evitaremos todo o mal.

Por Vós explicar-se-á o Pai E conheceremos o Filho;

Dai-nos crer sempre em Vós,

Espírito do Pai e do Filho.

Glória ao Pai, Senhor, Ao Filho que ressuscitou, Assim como ao Consolador.
Por todos os séculos. Amém

MEDITAÇÃO DO PRIMEIRO DIA


O amor é um fogo que abrasa

"E apareceram-lhes repartidas, como que linguas de fogo." (At 2.3).


1. Deus ordenou na Antiga Lei que o fogo ardesse continuamente no seu altar: "O fogo sempre ardia no altar" (Lv 6,12). Diz São Gregório que os altares de Deus são nossos corações, onde Ele quer que o fogo de seu santo amor arda sem cessar. Por isso o eterno Pai, não satisfeito de nos ter dado Jesus Cristo, seu Filho, para nos salvar por sua morte, quis dar-nos ainda o Espírito Santo para que habi-tasse em nossas almas, e as conservasse continuamente abrasadas de amor.
    Jesus mesmo declarou que descera à Terra exatamente para inflamar com esse fogo sagrado os nossos corações, e que seu único desejo era vê-lo aceso: "Eu vim trazer fogo à Terra, que quero Eu, senão que ele seja aceso?" (Lc 12,49). Eis aqui porque, esquecendo as injúrias e as ingratidões dos homens, logo que subiu ao Céu nos enviou o Espírito Santo. Assim, ó Redentor amantíssimo, na vossa glória, como nos vossos sofrimentos e humilhações, nos amais sempre?
    Pela mesma razão, o Espírito Santo quis aparecer no Cenáculo sob a forma de línguas de fogo: "E apareceram-lhes repartidas como que línguas de fogo" (At 2,3). Por isso a Igreja nos faz rezar com estas palavras: "Ó Senhor, fazei que o vosso divino Espírito nos inflame com o fogo que Jesus Cristo veio trazer sobre a Terra, e que desejou tão arden-temente ver brilhar nela". Foi este amor o fogo que inflamou os santos a fazerem grandes coisas para Deus: a amar os inimigos, a desejar os desprezos, a despojar-se de todos os bens terrenos e a abraçar com alegria os tormentos e a morte. O amor não pode ficar ocioso e nunca diz: "Basta". A alma que ama a Deus, quanto mais faz por seu Amado, mais quer fazer ainda, para mais lhe agradar e ganhar mais e mais a sua afeição.

II. O Espírito Santo acende o fogo do amor divino por meio da meditação: "Na minha meditação se acenderá o fogo" (Sl 38,4). Se então desejamos arder em amor para com Deus, amemos a oração; ela é a feliz fornalha em que o coração se abrasa nesse amor celeste.
    Meu Deus, até aqui nada fiz por Vós, que tão grandes coisas haveis feito por mim. Ah! Quanto a minha frieza vos deve mover a rejeitar-me! Peço-vos, ó Espírito Santo: aquecei o que está frio. Livrai-me da minha frieza e inspirai-me um grande desejo de vos agradar. Renuncio a todas as minhas satisfações e antes quero morrer do que dar-vos o menor desgosto. Aparecestes sob a forma de línguas de fogo: consagro-vos a minha língua, para que não vos ofenda mais. Ó Deus, Vós me destes a língua para vos louvar, e dela me tenho servido para vos ultrajar e levar os outros também a ofender-vos! Arrependo-me de toda a minha alma.
    Ah! Pelo amor de Jesus Cristo, que na sua vida vos honrou tanto com sua língua, fazei com que de agora em diante não cesse de vos honrar, celebrando vossos louvores, invocando-vos muitas vezes, falando da vossa bondade e do amor infinito que mereceis. Amo-vos, meu soberano Bem; amo-vos, ó Deus de amor. - Ó Maria, sois vós a esposa mais querida do Espírito Santo; obtende-me esse fogo divino.

ORAÇÕES FINAL PARA TODOS OS DIAS

Pai-Nosso; Ave-Maria; Glória ao Pai

Ladainha do Divino Espírito Santo (acesse aqui) 

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!


MEDITAÇÃO DO SEGUNDO DIA


O amor é uma luz que esclarece

"Ilumine os meus olhos. para que eu não durma jamais na morte." (SI 12.4).

1. Um dos maiores danos que nos causou o pecado de Adão é o obscurecimento da nossa razão pelo efeito das paixões que nos ofuscam o espírito. Muito desgraçada é a alma que se deixa dominar por alguma paixão! A paixão é uma nuvem, um véu, que nos impede de ver a verdade. Como pode fugir do mal aquele que não o conhece! E esse obscurecimento da nossa razão aumenta em proporção do número de nossos pecados.
    Mas o Espírito Santo, que é chamado Luz benfazeja (Lux beatíssima), com os seus esplendores divinos, não somente abrasa os nossos corações no seu santo amor, como também dissipa as nossas trevas e nos faz conhecer a vaidade dos bens terrenos, o valor dos eternos, a importância da Salvação, o preço da graça, a bondade de Deus, o amor infi-nito que Ele merece e o imenso amor que nos tem.
    "O homem animal não percebe as coisas que são do Espírito de Deus" (I Cor 2,14). O homem chafurdado no lamaçal dos prazeres mundanos pouco percebe as verdades da fé. Eis porque o infeliz tem amor ao que devia odiar, e odeia ao que devia amar. Santa Maria Madalena de Pazzi exclamava: "O amor não é conhecido! O amor não é amado!". Santa Teresa dizia igualmente que Deus não é amado porque não é conhecido. Também os santos pediam sem cessar ao Senhor luz e mais luz: enviai a vossa luz; dissipai minhas trevas; abrimeus olhos; porque, sem sermos esclarecidos, não podemos evitar os precipícios nem achar a Deus.

II. Como fruto desta meditação, tomemos a resolução de recorrer muitas vezes ao Espírito Santo nas difi-culdades que encontramos, não somente nos negócios espirituais da alma, mas também nos corporais, especialmente nos de mais graves consequências. Lembremo-nos, porém, de que Deus não nos comunicará sempre as suas luzes imediatamente; as mais das vezes se servirá, para tal fim, dos nossos superiores e pais espirituais que Ele deixou como seus representantes na Terra: "Quem vos ouve, a mim ouve, e quem vos despreza, a mim despreza" (Lc 10,16).
    Santo e divino Espírito, creio que sois verdadeira-mente Deus, e um só Deus com o Pai e o Filho. Adoro-vos e reconheço-vos por autor de todas as luzes com as quais me fizestes conhecer o mal que fiz ofendendo-vos, e quanto sou obrigado a amar-vos. Graças vos dou e me arrependo sumamente de vos haver ofendido. Merecia que me abandonásseis nas minhas trevas, mas vejo que ainda não me abandonastes.
    Ó Espírito Eterno, continuai a esclarecer-me e a fazer-me conhecer sempre melhor a vossa bonda-de infinita, e dai-me força para vos amar no futuro de todo o meu coração. Ajuntai graça à graça, para que eu fique docemente unido à Vós e obrigado a não amar senão à Vós. Eu vo-lo suplico pelos merecimentos de Jesus Cristo. Amo-vos, ó meu soberano Bem, amo-vos mais que a mim mesmo. Quero ser todo vosso; recebei-me e não permitais que me afaste mais de Vós. - Ó Maria, minha Mãe, assisti-me sempre por vossa intercessão.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)


MEDITAÇÃO DO TERCEIRO DIA



O amor é uma água que aplaca a sede

"Aquele que beber da água que eu lhe der. não terá jamais sede." (Jo 4.13).

1. O amor é chamado também fonte de água viva. O nosso Redentor disse à mulher Samaritana: "Aquele que beber da água que eu lhe der, não terá jamais sede" (Jo 4,13). Aquele que ama a Deus sinceramente não busca nem deseja coisa alguma fora de Deus, porque em Deus acha todos os bens. Assim, contente com possuir a Deus, repete sem-pre na alegria de seu coração: "Meu Deus e meu tudo"; "ó Meu Deus, Vós sois meu único bem". Mas Deus queixa-se de tantas almas que vão men-digar junto das criaturas alguns miseráveis e curtos prazeres, e o abandonam, Bem infinito e fonte de todas as alegrias: "Eles abandonaram-me a mim, que sou fonte de água viva, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas que não podem reter as águas" (Jr 2,13).

Aí está porque o Senhor nos ama, deseja ver-nos contentes e nos clama a todos: "Se alguém tem sede, venha a mim" (Jo 7,37). Quem deseja a verdadeira felicidade, venha à mim, darlhe-ei o Espírito Santo, que o fará feliz nesta vida e na outra: aquele que crê em Mim, como dizem as Escrituras, do seu seio jorrarão rios de água viva - sentirá correr de seu próprio seio rios, de água viva como os profetas anunciaram (Jo 7,38).

Aquele, pois, que crê em Jesus Cristo, e o ama, será enriquecido de tantas graças, que de seu coração, ou de sua vontade, que é como seio da alma, 10 14

fluirão fontes de santas virtudes, que o ajudarão não somente a conservar a própria vida, mas ainda a comunicá-la aos outros.

A água misteriosa de que fala Nosso Senhor são precisamente o Espírito Santo, o amor substancial, que Jesus prometeu enviar-nos do Céu depois da sua Ascensão: "Isto disse Ele acerca do Espírito, que haviam de receber os que cressem nele; porque ainda o Espírito não fora dado, por não ter sido ainda Jesus glorificado" (Jo 7,39).

II. A chave que abre os canais dessa água desejá-vel é a oração, pela qual obtemos todos os bens em virtude da divina promessa: "Pedi e recebe-reis" (Jo 16,24). Somos cegos, pobres e fracos; mas a oração nos consegue a luz, a riqueza e a força da graça. Com a oração só podemos tudo, dizia São Teodoreto. Aquele que ora recebe tudo o que deseja. Deus quer dar-nos suas graças, mas quer ser rogado.

"Senhor, dai-me dessa água" (Jo 4,15). Meu Jesus, dir-vos-ei com a samaritana, dai-me dessa água de vosso amor, que me faça esquecer a Terra e viver só para Vós, ó amável infinito. "Regai o que é seco" (Sequência da Missa de Pentecostes). Minha alma é uma terra seca, que não produz senão abro-lhos e espinhos de pecados; ah!, inundai-a com as águas da vossa graça, para que produza algum fruto para vossa glória, antes que a morte me arrebate deste mundo.

Ó fonte de água viva, ó Bem supremo, quantas vezes vos deixei pelas águas lodosas desta Terra, que me privaram do vosso amor! Ah!, não ter eu morri-do antes de vos ofender! Mas, no futuro, não quero mais buscar nada fora de Vós. Ó meu Deus, socorrei-me e fazei com que vos seja fiel. - Maria, minha Esperança, cobri-me sempre com vosso manto.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)


MEDITAÇÃO DO QUARTO DIA



O amor um orvalho que fertiliza

“Destilem como o orvalho as minhas palavras, como chuva sobre a erva.” (Dt 32, 2)

I. A Igreja manda-nos pedir ao Espírito Santo que purifique nossos corações e os torne fecundos por seu salutar orvalho: que a infusão do Espírito Santo purifique os nossos corações e os fecunde com a íntima aspersão de seu orvalho. O amor faz a alma fecunda em bons desejos, santas resoluções e boas obras: tais são as flores e os frutos da graça do Espírito Santo. O amor é chamado também orvalho, porque tempera o ardor das más inclinações e tentações. Por isso se diz do Espírito Santo que Ele modera o ardor e refrigera. Nos ardores a calma; um doce refrigério.

Este salutar orvalho desce sobre nossos corações durante a oração. Um quarto de hora de meditação basta para apagar o fogo do ódio ou do amor desordenado, por ardente que seja. A santa meditação é a adega misteriosa de que fala a esposa do Cântico dos Cânticos: “O rei me introduziu na sua adega, ordenou em mim a caridade” (Ct 2,4). Aí é que nos enchemos de caridade bem ordenada, pela qual amamos o próximo como a nós mesmos, e a Deus sobre todas as coisas. Quem ama a Deus, ama a oração; e a quem não ama a oração, é moralmente impossível vencer as próprias paixões.

II. Para que não sejamos oprimidos pelos ardores das más inclinações, e a fim de que o Espírito Santo possa fertilizar as nossas almas com o orvalho dos seus dons, tomemos hoje a forte resolução de fazer cada dia ao menos uma meia hora de oração mental. S. João Crisóstomo compara a oração mental a uma fonte no meio de um jardim: porque sem ela todas as virtudes murcham, ao passo que com ela se conservam frescas e amenas, e se aperfeiçoam constantemente.

Assim como quem sai de um jardim faz um ramalhete das flores que mais o encantam, assim, segundo o aviso de S. Francisco de Sales, devemos, ao sair da meditação, compor um como que ramalhete dos pensamentos que mais nos impressionaram, e durante o dia avivá-los de tempos em tempos, mesmo durante as nossas ocupações.

Ó Santo e Divino Espírito, não quero mais viver para mim mesmo; em vos amar e agradar quero empregar tudo o que me resta da vida. Com este fim vos peço que me concedais o dom da oração mental. Vinde a meu coração, ensinai-me Vós mesmo a praticá-la como se deve. Dai-me a força de não deixá-la por tédio no tempo da aridez; dai-me o espírito de oração, isto é, a graça de sempre orar e de fazer aquelas orações que sejam mais agradáveis ao vosso divino Coração. Por meus pecados me havia perdido; mas por tantos sinais de vossa ternura, reconheço que quereis a minha salvação e santificação. Quero santificar-me para vos agradar e amar mais a vossa infinita bondade. Amo-vos, ó meu soberano bem, meu amor, meu tudo, e porque vos amo, dou-me todo a Vós. Ó Maria, minha esperança, protegei-me.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)

MEDITAÇÃO DO QUINTO DIA



O amor é um repouso que restaura as forças

“Em paz dormirei nele mesmo, e repousarei.” (Sl 4, 9)

I. “O amor se chama alívio nas penas, consolação nas lágrimas.” O amor é um repouso que recreia, porque o ofício principal do amor é unir a vontade da pessoa que ama à do objeto amado. Para consolar-se de todas as humilhações que recebe, dores que sofre, perdas que padece, uma alma que ama a Deus só precisa de conhecer a vontade de seu amado que deseja vê-la suportar tal pena.

Dizendo somente: “Assim o quer meu Deus”, ela acha paz e contentamento no meio de todas as tribulações. Esta é a paz divina que transcende todos os prazeres dos sentidos: Paz de Deus que supera todos os sentidos (Fl 4,7). S. Maria Madalena de Pazzi sentia-se inundada de alegria só com o pronunciar das palavras: “Vontade de Deus”.

Nesta vida cada um deve levar sua cruz; mas, diz S. Teresa: “A cruz é dura para quem a arrasta, não, porém, para aquele que a abraça”. Assim é que o Senhor sabe ao mesmo tempo ferir e curar, segundo a expressão do Santo Jó: “Ele fere e cuida, se Ele golpeia sua mão cuida” (Jó 5,18). Por sua doce unção, o Espírito Santo torna suave e amável até os opróbrios e tormentos. “Sim meu Pai, assim seja, porque é vossa vontade” (Mt 11,26). Assim orou Jesus Cristo, e nós também devemos repetir estas palavras do Salvador todas as vezes que a adversidade nos visitar: sim meu Pai, assim seja, porque é vossa vontade. Quando trememos sob a ameaça de alguma desgraça temporal, repitamos sempre: “Fazei, ó meu Deus; aceito desde já tudo o que fizerdes. Protesto que quero viver onde Vós quiserdes, sofrer tudo o que quiserdes e morrer quando quiserdes”. É também utilíssimo oferecer-se muitas vezes a Deus no decurso do dia, como fazia S. Teresa.

II. Ah! meu Deus, quantas vezes, para fazer a minha própria vontade, contrariei a vossa e cheguei a desprezá-la. Disto me aflijo mais que todos os males. De aqui em diante quero de todo o coração amar-vos e obedecer-vos. “Falai, Senhor, vosso servo escuta” (I Sm 3,10). Dizei o que quereis de mim; quero fazer em tudo a vossa vontade. Esta será para sempre o meu único desejo, o meu único amor. Ajudai a minha fraqueza, ó Espírito Santo. Vós sois a mesma bondade; como, portanto, posso amar outra coisa senão a Vós? Conjuro-vos, atraí para Vós, pela doçura de vosso amor, todos os afetos do meu coração. Renuncio a tudo para me dar a Vós sem reserva.

“Recebei, Senhor, toda a minha liberdade. Aceitai a minha memória, a minha inteligência, e toda a minha vontade. Tudo o que tenho e possuo, fostes Vós quem me deste; venho restituí-lo, e entregá-lo inteiramente ao vosso beneplácito. Dai-me somente o vosso amor com a vossa graça, e bastante rico sou, mais nada vos peço.” — Faço o mesmo pedido a vós, ó Mãe do belo amor, Maria, e espero que me obtereis pela vossa poderosa intercessão.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)


MEDITAÇÃO DO SEXTO DIA 




O amor é uma virtude que fortifica

“O amor é forte como a morte.” (Ct 8, 6)

I. Assim como não há força criada que resista à morte, assim não há dificuldade que não ceda ao ardor de uma alma amante. Quando se trata de agradar ao objeto amado, o amor vence tudo: perdas, desprezos, dores. Nada é bastante duro para resistir ao fogo do amor, diz S. Agostinho: “Nada é tão duro que o fogo do amor não o possa vencer”. O sinal mais certo, pois, para reconhecer se uma pessoa ama muito a Deus é a sua fidelidade em amar na adversidade como na prosperidade.

Dizia S. Francisco de Sales que Deus é tão amável quando nos aflige como quando nos consola, porque faz tudo por amor, e até, quando mais nos aflige nesta vida é que nos testemunha mais o seu amor. S. João Crisóstomo julgava mais feliz S. Paulo nos ferros, que S. Paulo arrebatado ao terceiro Céu.

Também os santos mártires se regozijavam no meio dos tormentos e agradeciam ao Senhor como grande favor que lhes dispensava o terem de sofrer por seu amor. E os outros santos, que não acharam tiranos para os atormentar, tornaram-se carrascos de si mesmos pelas penitências com que se castigaram, a fim de se fazerem agradáveis a Deus. Aquele que ama, diz S. Agostinho, não sente o sofrimento, ou se sente, o ama.

II. Ó Deus de minha alma, digo que vos amo; mas que faço por vosso amor? Nada. É então um sinal de que não vos amo, ou vos amo muito pouco. Meu Jesus, enviai-me o Espírito Santo, que me venha dar a força de sofrer e fazer alguma coisa por vosso amor antes de minha morte. Ah, meu amado Redentor!, não permitais que eu morra neste estado de frieza e ingratidão em que tenho vivido até hoje. Concedei-me a graça de amar os sofrimentos, depois de tantos pecados que me tornaram dignos do Inferno.

Ó meu Deus, todo bondade e todo amor, desejais habitar em minha alma de onde tantas vezes vos expulsei; vinde, estabelecei nela a vossa morada, dominai nela e fazei-a toda vossa. Amo-vos ó meu Senhor, e já que vos amo, comigo estais, como S. João me afirma: “Aquele que mora no amor, mora em Deus e Deus nele” (I Jo 4,16). Se, pois, estais comigo, aumentai em mim as chamas de vosso amor, fortificai as cadeias que me prendem a Vós, não busque e não ame senão a Vós, e assim unido convosco, não me separe jamais do vosso amor. Ó meu Jesus, quero ser vosso, todo vosso. Ó minha advogada e rainha, Maria, alcançai-me o santo amor e a perseverança.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)



MEDITAÇÃO DO SÉTIMO DIA 

Pelo amor, a alma torna-se morada de Deus

“Rogarei a meu Pai, e Ele vos enviará outro Consolador, afim de que more sempre convosco” (Jo 14, 16).

I. O Espírito Santo é chamado hóspede das almas: Doce hóspede das almas. É o efeito da magnífica promessa de Jesus Cristo em favor daquele que o ama. “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e rogarei a meu Pai, e Ele vos enviará outro Consolador, o Espírito Santo, a fim de que more sempre convosco”. Sim, sempre, porque o Espírito Santo não desampara nunca uma alma, a não ser que seja expulso por ela: não abandona, a não ser que seja expulso.

Deus, portanto, habita em toda a alma em que é amado; mas declara não ficar satisfeito, se não o amamos de todo o nosso coração. Escreve S. Agostinho que o senado romano se recusou a admitir Jesus Cristo no número dos deuses, dizendo que Ele é um Deus soberbo, que quer ser adorado só. Isso é verdade: nosso Senhor não sofre rival num coração que o ama; quer habitar nele só, e ser amado só. Se Ele não se vê amado só, tem, por assim dizer, segundo a expressão de S. Tiago, zelos das criaturas com que é dividido esse coração que Ele desejava só para si: “Sois amados até os ciúmes pelo Espírito que habita em vós” (Tg 4,5). Numa palavra, como diz S. Jerônimo: “Jesus é um Deus cheio de zelos”.

É este o motivo por que o esposo celeste louva a alma que, semelhante à rolinha, vive na solidão e escondida do mundo: “Tuas faces são graciosas, como a rolinha” (Ct 1,9). Não quer que o mundo tenha parte no amor desta alma, deseja-a toda inteira para si. Se ele ainda louva a sua esposa, chamando-a jardim fechado: “É um jardim fechado, minha irmã, minha esposa” (Ct 4,12), é porque ela não deixa entrar em seu coração nenhum afeto terreno. Ah! Jesus não merece todo o nosso amor? “Ele te deu tudo, nada guardou para si”, diz S. João Crisóstomo: Ele nos deu tudo, seu sangue e sua vida; mais do que isto não podia nos dar.

II. Se queremos que Deus habite em nossa alma com a plenitude de sua graça, consagremo-la hoje de novo toda inteira e sem reserva a seu serviço e repitamos esta nossa consagração muitas vezes durante o dia, especialmente na oração mental, na santa comunhão e na visita ao Santíssimo Sacramento.

Lembremo-nos de que há três meios principais pelos quais uma alma se pode dar toda a Deus. Primeiro, evitar todas as faltas deliberadas, ainda as mais pequeninas, e para este fim reprima o mais insignificante desejo desordenado e mortifique a satisfação dos sentidos. Segundo, escolher, entre as coisas boas, a melhor, que mais agrade a Deus. Terceiro, aceitar com paz e gratidão, das mãos do Senhor, tudo o que mortifica o nosso amor-próprio e em particular os desprezos. Lembremo-nos de que tem mais valor aos olhos de Deus um desprezo sofrido em paz e por amor dele do que mil mortificações e mil práticas.

Ó meu Deus, bem vejo que me quereis todo para Vós. Tantas vezes vos expulsei da minha alma, e não vos recusais de nela entrar e unir-vos a mim. Ah! Tomai agora posse de todo o meu ser; dou-me inteiramente a Vós.

Aceitai-me, ó meu Jesus, e não permitais que eu viva de aqui em diante um instante sequer sem vosso amor. Vós me buscais, e eu não busco senão a Vós. Quereis minha alma, e ela só vos quer a Vós. Vós me amais, e eu também vos amo; e já que me amais, prendei-me tão perfeitamente convosco que não me aparte mais de Vós. Ó Rainha do Céu, e minha querida Mãe, Maria, em vós ponho minha confiança.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)


MEDITAÇÃO DOI OITAVO DIA 

O amor é um vínculo

“Acima de tudo, tende a caridade, que é o vínculo da perfeição.” (Cl 3, 14)

I. Assim como o Espírito Santo, amor incriado, é o laço indissolúvel que une o Pai e o Verbo Eterno, assim é esse mesmo Espírito que une nossas almas à Deus. “A caridade”, diz S. Agostinho, “é uma virtude que nos une a Deus”. Daí este grito de alegria de S. Lourenço Justiniano: “Ó amor, tu és então um vínculo de tal maneira forte, que pudeste encadear um Deus e uni-lo a nossas almas!”. Os laços do mundo são laços de morte, mas os laços de Deus são laços de vida e salvação: “Seus liames são ligaduras salutares” (Ecl 6,31), porquanto são vínculos de amor, e o amor nos une a Deus, nossa única e verdadeira vida.

Antes da vinda de Jesus Cristo os homens separavam-se de Deus; aferrados à Terra, recusavam unir-se a seu Criador; mas o Senhor, cheio de ternura, os atraiu a si pelos laços de amor, como tinha prometido por Oséias: “Eu os atrairei com cordas humanas, com os vínculos da caridade” (Os 11,4). Estes laços são os seus benefícios: luzes, apelos ao seu amor, promessas do Paraíso; mas é sobretudo o dom que nos fez de Jesus Cristo no sacrifício da cruz e no sacramento do altar, e enfim, o dom do Espírito Santo. Por isso exclama o profeta: “Rompe as cadeias do teu pescoço, filha cativa de Sião” (Is 52,2). Ó alma, criada para o Céu, desfaze-te dos laços da Terra para te unires a Deus pelos laços do santo amor.

II. “Tende a caridade, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). O amor é um laço que reúne todas as virtudes, e torna a alma perfeita. Daí a seguinte palavra de S. Agostinho: “Ama e faze o que queres”. Ama a Deus e faze o que queres, porque quem ama a Deus tem cuidado de evitar tudo o que causa desgosto ao objeto de seu amor, e procura agradar-lhe em tudo.

Dulcíssimo Jesus, muito me haveis obrigado a amar-vos; muito vos custou obter o meu amor. Ingratíssimo seria eu, se vos amasse pouco, ou dividisse o meu coração entre Vós e as criaturas, depois que por mim derramastes vosso sangue e sacrificastes vossa vida! Quero desapegar-me de tudo, e pôr somente em Vós todos os meus afetos. Muito fraco sou para executar esta resolução; Vós, que ma inspirais, dai-me a força de a cumprir.

Amantíssimo Jesus meu, feri meu pobre coração com a suave seta do vosso amor, para que não cesse de arder no desejo de vos possuir e consumir-me de amor para convosco. A Vós procure sempre, a Vós só deseje, a Vós encontre sempre. Ó meu Jesus, só a Vós quero, e nada mais. Fazei com que eu repita sempre durante a minha vida, e sobretudo na hora de minha morte: meu Jesus, só a Vós quero, e nada mais. Ó Maria, minha Mãe, fazei com que de hoje em diante eu não queira senão a Deus.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)

MEDITAÇÃO DO NONO DIA 


O amor é um tesouro que encerra todos os bens

“É um tesouro infinito para os homens; os que usaram dela, foram feitos participantes da amizade de Deus” (Sab 7, 14)

I. O amor é o tesouro de que fala o Evangelho, o qual nos cumpre adquirir a custo de tudo mais. A razão é porque ele é realmente aquele bem infinito que nos faz participantes da amizade de Deus. Aquele que acha Deus, acha tudo o que pode desejar: “Deleita-te no Senhor, e ele te concederá as petições do teu coração” (Sl 37,4). O coração humano está sempre procurando bens capazes de torná-lo feliz. Enquanto se dirige às criaturas para os obter, nunca se satisfaz, por mais que receba. Ao contrário, um coração que só quer a Deus, Deus lhe satisfará todos os desejos. Quais são com efeito os homens mais felizes na Terra, senão os santos? E porquê? Porque só querem e buscam a Deus.

Estando um príncipe a caçar, viu um solitário percorrendo a floresta, e perguntou-lhe o que fazia nesse deserto. — Mas vós, senhor – retorquiu logo o anacoreta – que vindes buscar aqui? — Eu – acudiu o príncipe – ando em busca de caças. — E eu– tornou o solitário – busco a Deus.

O tirano que martirizou S. Clemente de Ancira, ofereceu-lhe ouro e pedras preciosas para conseguir dele que renegasse a Jesus Cristo; mas o santo, dando um profundo suspiro, exclamou: “Pois que! Um Deus posto em paralelo com um pouco de lama!”. Feliz de quem conhece o tesouro do divino amor e procura obtê-lo! Quem o conseguir, despojar-se-á por si mesmo de tudo, para não possuir senão a Deus. “Quando o fogo pega na casa”, dizia S. Francisco de Sales, “lançam-se todos os utensílios pela janela.” E o Padre Segneri, o moço, grande servo de Deus, tinha costume de dizer: “O amor divino é um roubador que nos tira de todos os afetos terrenos ao ponto de exclamarmos então: ‘Senhor, que desejo senão a Vós?’”. “Deus de meu coração, e minha porção, Deus, para sempre” (Sl 73, 26).

II. Ó mundanos insensatos, exclama S. Agostinho, ó homens, aonde ides para contentar o vosso coração? O bem que procurais está longe disso. Aproximai-vos de Deus, recuperai a sua graça, buscai o seu amor, porque só Ele pode dar-vos a felicidade que andais procurando. Nós ao menos não sejamos tão insensatos, e, como nos exorta o mesmo santo Doutor, de hoje em diante, busquemos unicamente o amor de Deus, busquemos o único bem, no qual estão encerrados todos os outros. Mas não podemos achar este bem, sem renunciar a todo afeto pelas coisas da Terra, como o ensina S. Teresa: “Desapega o teu coração das criaturas e acharás a Deus”.

Meu Deus, no passado não foi a Vós que busquei, mas me busquei a mim mesmo e as minhas satisfações; e por elas me apartei de Vós, que sois o bem supremo. Mas Jeremias me consola, assegurando-me que sois só bondade para os que vos buscam (Lm 3,25). Amantíssimo Senhor meu, compreendo o mal que fiz deixando-vos, e arrependo-me de todo o coração. Vejo que sois um tesouro infinito; não querendo deixar inútil esta luz, renuncio a tudo, e escolho-vos para único objeto dos meus afetos.

Ó meu Deus, meu amor, meu tudo, por Vós suspiro. Vinde, ó Espírito Divino, e com o santo fogo do vosso amor, consumi em mim todo o afeto de que não sois o objeto. Fazei-me todo vosso, e que tudo vença para vos agradar. Ó Maria, minha advogada e Mãe, ajudai-me com as vossas orações.

(Fazer as Orações finais para todos os dias.)


De grandes santos a pessoas comuns, milhares de católicos ao longo dos séculos recorreram às novenas para obter graças especiais.

Tão valiosas práticas espirituais não podem ficar soltas, muitas vezes perdidas, entre papéis e itens velhos, mas merecem estar em um lugar digno de toda sua importância — em nossas casas e também em nossas vidas.

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