sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Como surgiu "A Via Sacra?"

         


    Não foi inventada, mas sim inspirada nos coração dos primeiros cristãos peregrinos. Conheça como surgiu a Via Sacra e como chegou até nós no formato em que a conhecemos.

        A via-sacra sofreu modificações desde sua criação no século XV, mas sua forma (a mesma usada hoje em dia) foi final- mente fixada pelos Papas Clemente XII, em 1731, e Bento XIV, em 1742. Ela consiste em percorrer, à semelhança de Jesus, as catorze estações que recriam os momentos desde Sua condenação à morte até Seu enterro, parando em cada estação para meditar ou rezar.

        Dom Estêvão Bettencourt, OSBM, da revista ‘Pergunte e Responderemos’, de número 26, de fevereiro de 1960, fala-nos sobre a tradição do valoroso exercício de piedade que é a Via-Sacra.

        Segundo o bispo, a Via-Sacra é um exercício de piedade em que os fiéis percorrem mentalmente o caminho de Jesus Cristo, do Pretório de Pilatos até o monte Calvário. Esse exercício muito antigo, que remonta os primeiros séculos da Igreja Católica, tomou forma com o tempo, até a Via-Sacra, como conhecemos em nossos dias.

        Desde os primórdios, os fiéis veneravam os lugares santos, onde viveu, morreu e foi glorificado Jesus Cristo. Peregrinos de países mais longínquos iam à Palestina para orar nesses lugares. Em consequência dessas peregrinações, surgiram narrativas, das quais as mais importantes da antiguidade são a de Etéria e a do peregrino de Bordéus, que datam do século IV. Muitos desses peregrinos reproduziam, em pinturas ou esculturas, os lugares sagrados que visitaram.

Lugares santos

        A tendência de reproduzir os lugares santos aumentou por causa das Cruzadas (século XI-XIII), a qual proporcionou a muitos fiéis a oportunidade de conhecer os lugares santos e de se beneficiarem da espiritualidade desses locais. Por isso, aumentaram as capelas e monumentos que lembram os santuários da Terra Santa. Essas capelas e monumentos passaram a ser visitados por pessoas que não podiam viajar para a Cidade Santa.

        Até o século XII, os guias e roteiros que orientavam a visita dos peregrinos à Palestina não tratavam de modo especial os lugares santos relacionados à Paixão de Cristo. Em 1187, apareceu o primeiro itinerário que seguia o caminho percorrido por Jesus. Porém, somente no fim do século XIII, os fiéis passaram a separar a Via dolorosa do Senhor em etapas ou estações. Cada uma dessas era dedicada a um fato do caminho da Cruz de Cristo e acompanhada por uma oração especial. Por causa da limitação dos maometanos, os cristãos passaram a ter um programa para a visita desses lugares santos, relacionados à Paixão de Cristo.

Via Crucis

        No fim do século XIV, já havia um roteiro comum que percorria, em sentido inverso, a Via crucis. Este começava na Igreja do Santo Sepulcro, no Monte Calvário, e terminava no Monte das Oliveiras. As estações desse caminho eram bem diferentes da via atual. Alguns autores do fim do século XV, como Félix Fabri, afirmavam que aquele itinerário – do Calvário ao Monte das Oliveiras – era o mesmo que a Virgem Maria costumava percorrer, recordando a Paixão de seu amado Filho Jesus Cristo.

        Os peregrinos que visitavam a Terra Santa, no fim da Idade Média, testemunhavam um extraordinário fervor, pois arriscavam suas vidas na viagem e se submetiam às humilhações e dificuldades impostas pelos muçulmanos ocupantes da Palestina. Tal fervor fez com que muitos cristãos, que não podiam ir à Terra Santa, desejassem trocar a peregrinação pelo exercício de piedade realizado nas igrejas e mosteiros. Esse desejo fez com que fosse desenvolvido o exercício do caminho da Cruz de Jesus Cristo.

        O fervor levou os fiéis a percorrerem o caminho doloroso do Senhor Jesus na ordem dos episódios da história da Paixão de Cristo. A narrativa da peregrinação do sacerdote inglês Richard Torkington, em 1517, mostra que, no início do século XVI, já se seguia a Via dolorosa do Senhor na ordem dos acontecimentos. Isso possibilitava aos fiéis a reviverem, mais intensa e fervorosamente, as etapas dolorosas da Paixão.

        No Ocidente, as pinturas ou esculturas das estações da Via-Sacra eram variadas. Algumas delas tinham apenas sete ou oito estações. Outras contavam com 19, 25 ou até 37 estações na Via dolorosa de Cristo. Em 1563, o livro “A peregrinação espiritual”, de Jan Pascha, descreve uma viagem espiritual que deveria durar um ano, num roteiro que partia de Lovaina para a Terra Santa.

Como surgiram as 14 estações

        Cada dia daquela peregrinação era acompanhada de um tema de meditação e exercícios de piedade. Em 1584, Adrichomius retomou o itinerário espiritual de Jan Pascha e lhe deu a forma que tem a Via-Sacra como a conhecemos hoje, ou seja, o caminho da Cruz de Cristo acontece a partir do pretório de Pilatos, onde Jesus foi condenado à morte, num total de 14 estações, até o Calvário, onde morre o Crucificado.

        Os franciscanos tiveram um papel importante na propagação do exercício da Via-Sacra. Desde o século XIV, estes são os guardas oficiais dos lugares santos da Terra Santa e, talvez, por isso dedicaram-se à propagação da veneração da Via-Sacra em suas igrejas e conventos. Desde o fim da Idade Média, os franciscanos erguiam estações da Via-Sacra, segundo o roteiro de Jan Pascha e Adrichomius. Isso fez com que essa forma prevalecesse sobre as outras formas de devoção da Via dolorosa de Cristo. Foram, também, os franciscanos que obtiveram dos Papas a concessão de indulgências ao exercício da Via-Sacra. Dentre os filhos de São Francisco, destaca-se São Leonardo de Porto Maurício, que ergueu 572 “Vias-Sacras” de 1731 a 1751.

        Assim, o exercício da Via crucis desenvolveu-se ao longo dos séculos até atingir sua forma atual, a partir da obra de Pascha e Adrichomius no século XVI. A aprovação da Santa Sé e a concessão de indulgências mostram que a veneração e a meditação da Via dolorosa de Cristo fazem muito bem para a piedade cristã, especialmente no tempo da Quaresma. Por isso, desfrutemos dos benefícios da Paixão de Cristo como são propostos pela Via-Sacra, piedade que santifica os fiéis cristãos a tantos séculos.

        É uma das práticas de piedade prediletas do Santo Padre. Essa predileção tem raízes na tradição familiar, nos costumes da paróquia onde Karol Wojtyla foi batizado, nas opções pastorais da Polônia, em cujo corpo a sua terra ferido, dividi- do, despojado por potências estrangeiras se prolongou o mistério da Paixão de Cristo. Desde que Deus, em Seu desígnio providencial, o chamou à cátedra de Pedro (16 de outubro de 1978), João Paulo II nunca faltou ao encontro da "Via-sacra do Coliseu", na noite de Sexta-feira Santa.

        A via-sacra é uma oração forte porque nos lembra, como foi dito, o caminho da dor e do sofrimento de Jesus, no percurso de Sua Divina mis- são Redentora. De modo perfeito e heroico, o Senhor aceitou a Cruz para redimir e salvar todas as gerações, demonstrando profunda obediência ao Santo Pai e infinito amor pela humanidade.

        Normalmente a reza é feita às quartas e sextas-feiras, no período da Quaresma. Todavia, por sua importância e seu valor espiritual, deveria ser rezada nos demais meses do ano por todos aqueles que se sentirem sensibilizados a amenizar as dores do Redentor e quiserem se irmanar aos sofrimentos de Jesus, penitenciando-se de suas próprias culpas e das transgressões da humanidade.

        Rezar a via-sacra é reviver na mente e no coração a grandeza d amor de Deus, que, para salvar redimir a humanidade de todo pecado entregou seu Divino Filho em holocausto, como Vítima Perfeita para lavar os pecados de todos nós.


Deus abençoe!
José João

Reze a Via Sacra: Reze a Via Sacra

Um comentário:

  1. Deus amou tanto a humanidade que enviou seu único Filho para nos salvar de todos os nossos pecados

    ResponderExcluir