segunda-feira, 21 de julho de 2025

O Mistério da Amizade por Pe Jonas Abib

 


O mistério da amizade – Padre Jonas Abib (Agenda de 1983)

Todos nós temos medo de tentar alguma coisa. Só quando colocamos em ação nossos talentos é que sabemos que eles existem.

Quando deixamos de temer a rejeição é que temos coragem de tentar alguma coisa. enquanto tememos a rejeição não somos capazes de tentar.

Tememos o fracasso e por isso não tentamos coisa alguma e por isso não chegamos nunca a conhecer, muito menos colocar em ação nossas qualidades. O medo de sofrer uma rejeição nos paralisa completamente. 

Nós precisamos da apreciação de alguém.

Apreciação de amizade.

Apreciação de estima.

Apreciação de amor.

Sem essa apreciação a plenitude mesmo de Deus não cresceria.Ficaria bloqueada, impedida pelo medo de rejeição. 

Os talentos que temos tem por fim glorificar a Deus. A apreciação de amizade é que nos dá coragem de pô-los em ação.Sem elas eles ficariam bloqueados. O mais profundo desejo do nosso ser é ser conhecido – ser apreciado. Só nos sentimos ser, existir, quando somos apreciados, quando somos conhecidos.

O nosso fim é glorificar a Deus. Sem essa apreciação não damos glória a Deus. Vendo-nos, conhecendo-nos, as pessoas glorificam a Deus.

Cada um é uma obra-prima, uma criatura maravilhosa.

É só na amizade que apreciamos a beleza que Deus pôs em cada um. Só os olhos de amigo podem ver a beleza total. Faz a pessoa desabrochar, florir, faz a pessoa mais bonita. Este amor é curador. Ele traz para fora o que é bom, o melhor de cada um.

A nossa apreciação rendida em glória da Trindade.

O não sermos apreciados é uma mentira, porque todos somos belos, somos uma obra-prima, não ser considerado e tratado assim é uma mentira. Não ser apreciado assim é um insulto a Deus, o artista que nos fez.

O primeiro passo é reconhecer a verdade do que somos. É preciso manifestá-la por palavras, expressa em ações e em palavras de apreciação.

Rm 13,7 – “Dai a cada um o que lhe é devido. Não fiquei devendo coisa alguma a não ser o amor que lhe é devido.”

Podemos ver as maravilhas que Deus realiza em cada irmão. Quem não honra, não aprecia os irmãos, têm dificuldade de louvar a Deus, de apreciar as maravilhas de Deus. Infelizmente temos visto as qualidades dos outros como perigo para nós. Os outros são o que não conseguimos ser. É preciso alegrar-se com as perfeições de Deus manifesta em cada um de nós, porque amamos a Deus e nos alegramos com sua obra em quem quer que seja. Fechar-se a isso é fechar-se ao amor de Deus.

Na Trindade as pessoas se contemplam, se alegram um com o outro. Somos chamados para essa vida. 

Eu não consigo ser eu mesmo enquanto não for reconhecido e apreciado num relacionamento de amizade.

Também quem reconhece, aprecia-se, alegra e se realiza vendo o fruto da sua apreciação, da sua amizade: o outro desabrocha, cresce, frutifica. Deus também se alegra em suas obras.

Enquanto não experimentamos o amor, o reconhecimento de nossos irmãos, não somos capacitados a acreditar nesse amor de Deus que me ama e se alegra em sua obra, em suas perfeições em mim. Por isso, Deus nos dá a missão de amar e da amizade, amar os outros como Ele nos amou, revelar o amor gratuito de Deus. Fazer conhecido o Amor de Deus pelo amor que temos aos nossos irmãos.

Ser conhecido e apreciado é uma necessidade. Necessitamos de nos sentir livres, ou mesmo à vontade, sem temer a rejeição. Eu só estou à vontade com aqueles que me amam. Só o amor de confiança, de uma intimidade.

Pelo medo de rejeição somos acostumados a nos ocultarmos. Vestimos máscaras por medo da rejeição.

Quando sou amado sinto-me aceito mesmo quando estou longe da perfeição. Sou aceito inteiramente como eu sou. Mas essa amizade vai me alimentando no que eu tenho de melhor e pondo à tona, e atualizando o que estava em potência, desabrochando. Vai tomando também o que em mim era imperfeição e levando ao acabamento. Sempre vê as minhas capacidades para o bem e as leva a se desenvolver e produzir fruto. Isso é obra do reconhecimento e da apreciação, do Amor amizade. Cada um nós tem necessidade desse amor, dessa amizade. necessidade de ser conhecido, de ser apreciado.

Mas tudo que já sofri na vida me leva a DESCONFIAR da apreciação, da amizade.

Preciso também me abrir. Preciso apreciar o amor, a amizade que estou recebendo, tentando corresponder aquilo que os que me amam veem em mim. A crescer para o bem, a realizar o que em mim está em semente. Aquilo que eu não acreditava haver em mim. O bem, a beleza em que eu não acreditava, mas o amigo viu em mim. Corresponder a essa apreciação.

Quando sou apreciado e correspondo a apreciação começo a ver em mim o EGOÍSMO que antes não via. Vejo as raízes de pecado, as minhas fraquezas. Vou ME CONHECENDO devidamente. Começa a despertar em mim o desejo de melhorar cada vez mais para alegria aquele que me ama. Alegria para Deus, alegria para as pessoas que me amam. Só vejo as minhas falhas à luz do amor.

Para não ferir esse amor, eu mudo, melhoro, não faço o que antes fazia. Por amor a esse amor mudo de vida. Porque? Eu feito para o Amor, para a amizade.

O melhor de mim mesmo, a maior realização de mim mesmo, eu só encontro e só encontro nessa vida de COMUNHÃO, comunhão com Deus, comunhão com os irmãos.

Quando sou amado por esse amor (não possessivo) eu tendo a me tornar o melhor de mim mesmo. Tendo a ser plenamente a criatura maravilhosa que eu já sou no coração de Deus. Depois da experiência de um irmão por mim é que eu começo a entender o amor íntimo de Deus por mim. Começo a acreditar que ele se alegra com minhas perfeições e se entristece com os meus erros. É uma inspiração poderosa para eu SER FIEL a esse amor que me ama.

A necessidade de ser conhecido e amado. O impulso para ser cada vez mais belo, bom, para dar alegria a quem me ama é muito bom. Sou chamado e correspondo a necessidade de ser o melhor de mim mesmo. esse impulso de agradar não deve ser cortado.

Somos mal formados para o amor. O mundo nos forma para os ABUSOS do amor (o mal uso – uso indevido) e da amizade (uma deturpação). É o amor amizade do irmão que vai me libertar do medo da rejeição para eu AMAR os outros. Ele me liberta do medo da rejeição, pois ele me ama como eu sou. Com os meus defeitos. É gratuito. É permanente, pois a fonte é Deus. Não é porque eu sou bom, nem porque não sou bom. É gratuito.

Essa estufa da qual precisamos para nos desenvolvermos e crescer. Passo a acreditar no amor e no meu próprio amor pros outros. Passo a aprender a amar com gratuidade. Passo a aprender a despertar as sementes maravilhosas que há nos outros porque aprendi com experiência própria. Sou liberado do hábito de querer agradar os outros para não ser rejeitado. As energias do meu amor não se dirigem mais para mim, para me defender, mas se dirigem para os outros. Sou libertado para não mais me voltar para mim, mas para os outros. Não mais amar a mim mesmo, mas os outros. Então, quando saio de mim me torno AMÁVEL. Encontro alegria no amor dos irmãos.

FIM.

Pe Jonas Abib



Nenhum comentário:

Postar um comentário